É impossível criar marcadores, citar, marcar fragmentos interessantes, e em todo caso – vamos acrescentar – é muito mais complicado do que no caso de livros comuns. Desse ponto de vista, o que parecia ser a maior vantagem dos audiobooks – a possibilidade de comungar com a literatura enquanto se realizam outras atividades – os torna particularmente suspeitos. Como tal, alguns hesitam até mesmo se um audiobook merece o título de “livro” .

De fato, há algo peculiar no fato de haver livros para serem lidos e livros para não serem lidos. Mas talvez a fonte dessa peculiaridade seja que nos acostumamos demais com a noção de leitura como um olhar silencioso sobre o texto escrito. O processo de leitura nem sempre foi o mesmo. Mesmo na Grécia antiga, e por muito tempo também em Roma, a leitura solitária silenciosa permaneceu algo completamente inimaginável, porque a leitura (todo contato com o texto escrito) foi incluída no fluxo da comunicação oral.

Os gregos, como observou o sociólogo e historiador cultural Richard Sennet em seu livro Flesh and Stone , mesmo lendo, pensavam estar ouvindo vozes de pessoas reais falando de uma festa, e tratavam qualquer correção no texto escrito como se fossem estavam interrompendo a fala de alguém.

Os audiobooks podem ser considerados uma espécie de renascimento dessa cultura de leitura, que sobreviveu na prática da leitura para crianças, idosos e cegos, e não entre os amantes de livros comuns. Embora a leitura silenciosa, íntima e solitária continue sendo um dos fundamentos da cultura ocidental moderna, os antigos nunca liam silenciosamente. Naquela época , como escreve Peter Kivy, havia apenas duas maneiras de “ler” textos: ler em voz alta ou ouvir outra pessoa lendo. Ler silenciosamente simplesmente não era conhecido. https://www.ubook.com/audiobook/111130/a-origem-de-harry-potter